Colonha segue portanto figurando nas últimas resenhas estéticas, após o rumor em torno do novo vitral de sua catedral, desenhado pelo minimalista alemão Gerhard Richter:
Sim, pixelado como uma imagem com zoom em excesso. O jogo de cores é simpático e deixa um sabor de anos ’70, quando Richter compôs a base da obra. Mas o estranhamento que causa é negativo; um vitral, supõe-se, deveria refletir didaticamente sua ideologia e decorar, pois estes templos nasceram também como prova da técnica da qual os construtores eram dotados ou podiam dotar-se. Em resumo, o vitral ideal quer também, consiga-o ou não, ser belo, como este da mesma catedral:
É de pouca surpresa que nosso pixelado, pelo valor que possa ter, esteja na galeria errada: há tempos uma arte que se julga inovadora pensa que uma nova beleza significa a abolição da mesma ou um distanciamento intencional do já visto. Não por acaso, a grande parte das instalações são adjetivadas por supreendentes, insurgentes, contestadoras, de nova leitura, majestosas e astutas, mas raramente por belas. As saudades de um passado que nunca existiu, de que tanto sofre este conservadorismo, são facilitadas, e pouco difícil é adotar este esquivo moralismo tipicamente nórdico, quimera vitoriana e bizantina. Me pergunto o que diria nosso arcebispo Meisner sobre uma obra como o “Corpus Hypercubus” de Dalí, também citada por nossa fonte:
Tão claramente sua, que a atribuição seria desnecessária. Gala, sua eterna musa russa, está aos pés de um Salvador (seja um Cristo Salvador ou um Salvador Dalí — pouco importa, e de qualquer forma não podemos ver-lhe o rosto) heróico, em êxtase, vitorioso e em muito distante àquele Jesus das telas realistas de Mel Gibson. Dalí deve ter jogado com o ditado espanhol “a mal cristo, mucha sangre“, pois sua obra é inegavelmente boa e bela: suas minúcias não cansariam como o caleidoscópio de Richter.
Mas nem só de beleza vive a arte, e nisto a crítica oitocentista tinha plena razão. O retrato de Dalí é da era nuclear e mecânica, do homem que se acredita inédito. Se é um Cristo, é secularizado: seria ainda mais difícil achar, tanto nas paredes da catedral alemã quanto na mente de seus sacerdotes, um vão onde coubesse.
(Originariamente publicado no Ars Rhetorica)
(Originariamente publicado no Ars Rhetorica)
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