Traduttore, Traditore

(Originariamente publicado no Ars Rhetorica)

Um dos últimos posts do Abandoned Footnotes, um blog tão abandonado quanto seu nome, traz uma piada (more a pun than a joke) em grego clássico!
Πλάτωνος ὁρισαμένου, Ἄνθρωπός ἐστι ζῷον δίπουν ἄπτερον, καὶ εὐδοκιμοῦντος, τίλας ἀλεκτρυόνα εἰσήνεγκεν αὐτὸν εἰς τὴν σχολὴν καί φησιν, “οὗτός ἐστιν ὁ Πλάτωνος ἄνθρωπος.” ὅθεν τῷ ὅρῳ προσετέθη τὸ πλατυώνυχον. (Diogenes Laertius, VI.40)
Que, traduzido com aquela liberdade de arrepiar qualquer filólogo, fica:
Platão definira o homem como um bípede sem penas e fora muito aplaudido [por causa disto]. [Diógenes, sabendo disto,] levou uma galinha despenada à escola e disse: “Eis o homem de Platão”. Então a definição foi alterada, adicionando-se “e com unhas compridas”.
Não, o post não termina aqui. Tal como Frost que, certa feita, disse ser a poesia exatamente o que se perde ao traduzir, digo que aqui se perde o cômico; πλατυώνυχον, platyônykhon ou “com (a qualidade de ter) unhas compridas”, é fonologicamente similar a πλατώνικον, platônikon ou “com a qualidade de ser platônico” — o homem é sim um bípede sem penas, mas platonicamente, idealmente.

Nosso blogueiro acha a história pouco engraçada, mas eu discordo: é excelente.

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