Qays enlouquecido

Nizami, pela tradução de Colin Turner, pela tradução de Marisson Ricardo Roso, Laila & Majnun (Jorge Zahar Editor, p. 125):
Majnun invocou planeta por planeta, estrela por estrela, mas não recebeu resposta alguma. Os céus permaneceram calados, e a alma de Majnun gelou diante da insensível e fria beleza glacial dos astros. Os corpos celestes seguiram seus caminhos, desinteressados da situação de Majnun, inconscientes de sua aflição. Por que se preocupariam? Por que deveriam se interessar em ajudá-lo?
E então Majnun percebeu. Pela primeira vez tudo ficou claro. As estrelas não se importaram porque elas não poderiam se preocupar. As estrelas, assim como os grãos de areia sob seus pés, eram cegas, surdas e mudas! O espetáculo delas reluzindo era simplesmente um espetáculo. Sob aquela fachada esplêndida, eram apenas criaturas inanimadas, sem voz ou expressão. O que poderia significar o sofrimento de uma alma humana para elas?
E assim Majnun elevou sua face mais uma vez para os céus, mas agora, não para invocar as estrelas. ”Elas são meros vassalos como eu”, pensou ele. “E onde há vassalos deve haver um soberano. Se a criação não me responde”, cismou ele, ”talvez o Criador responda.”
Não apenas a angústia de buscar o que perco sem o persa original; há também uma vontade, que não quero trair pela investigação, de ver no amigo de Layli um tutor dos amigos de Beatrice e Laura, e em suas corças e antílopes o lobo de Gubbio. O soberano é, afinal, o mesmo e os protagonistas desta fábula se conheceram, não por acaso, em uma escola. 


(Originariamente publicado no Ars Rhetorica)

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